6.12.14

FEIRA TROCAS

Como fazer uma feira de trocas?


É muito legal trocar bens, serviços ou saberes, seja uma receita caseira, frutas, sementes, mudas, plantas, artesanato, roupas, livros, objetos, aulas de violão, corte de cabelo, babysitter, cuidar do gato, um carreto ou uma solução como ir fazer as compras. Tem muita coisa que podemos oferecer e obter sem precisar de moeda oficial. Todo mundo aprende novidades, e costuma ser bem divertido.  Veja as sugestões abaixo. Como tudo, quanto mais se treina, melhor. No começo, é bom ter referências para ir adaptando, mas nada é totalmente obrigatório nem totalmente proibido. O importante é começar.
  1. Defina a data e o local (pode ser uma associação, um salão de festas, um pátio, uma praça, um galpão alugado, etc). O melhor é ter mesas, mas também dá para cada um expor suas coisas no chão, sobre esteiras, cangas, etc. Umas 4 horas é o suficiente se as pessoas forem pontuais. Caso sejam muitas pessoas, ou elas morem longe, é melhor prever 5 horas.
  2. Convide 50 pessoas ou mais, para garantir um mínimo de 10. Explique o objetivo e o funcionamento, diga para trazerem bens para trocar somando pelo menos o equivalente a uns R$50. Indique no convite que todo mundo é bem vindo, e que ao chegar, cada participante deve se registrar na “Banca” da feira. É bom pedir para cada um trazer etiquetas para colar preço nos bens.
  3. Prepare moedas para serem usadas exclusivamente na feira.Crie notas que tenham nome e identidade visual próprios, sem valor fora da feira –  como o dinheiro do jogo Banco Imobiliário. É só para poder fazer trocas indiretas (por exemplo, você quer um pedaço de bolo, e o dono do bolo não se interessou por nada do que você trouxe, mas irá aceitar a moeda nova). Imprima o valor de 20 por pessoa (por exemplo três notas de 1, e uma de 2, uma de 5 e uma de 10). Veja exemplos de notas na Internet.
  4. Arrume o local de forma bem agradável. Se der, com música, de preferência ao vivo, mas não muito alta – nas trocas as pessoas precisam conversar. Uma decoração caprichada é importante também, água e copos, se possível algum quitute para as boas vindas também ajuda a criar uma atmosfera acolhedora. Conforme cheguem os participantes eles devem ir arrumando os produtos que vão expor da forma mais atraente possível. Quem estiver oferecendo serviços e saberes, deve expor anúncios, se possível com fotos (avise isto no convite).
  5. À medida que cheguem as pessoas, converse, anote nomes e dados de contato. Faça o Mural das Demandas, escreva com letras grandes numa cartolina quais são os bens, serviços ou saberes pelos quais elas se interessam. Desta forma todos os participantes vão saber o que tem saída, e poderão oferecer ali mesmo ou combinar algo depois, ou na próxima feira. Guarde a folha e relembre as demandas nas próximas vezes que convidar essas pessoas.
  6. Abra a “Banca”. De cada pessoa que chega, a Banca deve examinar o que está sendo trazido em bens. Somente bens em condições de uso podem ser expostos. A Banca irá comprar da pessoa o valor equivalente a R$20 e pagará com a moeda social. Os bens comprados pela Banca formarão o Lastro da moeda. E na penúltima  meia hora da feira, o Lastro será vendido a outros participantes. Desta forma, cada participante terá moeda solidária para gastar e um bom incentivo para colocar a moeda em circulação (é preferível gastar a levar papel pintado para casa).OBS.: É importante que a Banca compre bens muito procurados. Nem sempre o gosto da Banca corresponde ao do grupo, por isto, trabalhe em dupla nesta hora, com alguém que conheça bem os participantes e possa ajudar a estimar quais os bens que aquelas pessoas apreciarão, quais os mais facilmente vendidos ao final da feira, porque o Lastro precisa ser liquidado. A cada compra, cole no bem imediatamente uma etiqueta com o preço acertado.
  7. Cada feira cria seu parâmetro de valores. É interessante que nas feiras os números não estejam amarrados aos números do comércio não solidário, que tem várias distorções geradas por impostos, juros, diferenças de subsídios e de leis trabalhistas entre os países, etc. Usar o valor do Real como referência facilita, mas convém ser flexível, valorizar mais o trabalho das pessoas. Por exemplo: um eletrodoméstico usado pode valer de 15 a 20 moedas sociais; uma massagem, de 5 a 10; e uma boa roupa, 8. Os preços dos bens trocados pelos participantes podem ir mudando durante a feira, só os preços dos bens que compõem o Lastro não.
  8. Quando tiver chegado um número suficiente de participantes, faça a abertura da feira propriamente dita. Pare a música. Comece reunindo todos em um círculo; explicando como vai ser o funcionamento, o horário do término das trocas, o horário da abertura do Lastro e o do encerramento final. Faça os acordos necessários para o evento, pergunte se há alguma observação a mais que alguém necessite fazer, e estando todos de acordo, declare aberta a sessão de trocas.
  9. Encerre a sessão de trocas 60 minutos antes do horário do final do evento, nesse momento inicie a venda do Lastro, esta atividade deve durar cerca de 30 minutos. Exponha os bens do Lastro, com a venda desses bens, a moeda da feira retorna à Banca. E nos minutos finais há uma rodada de perguntas e respostas entre os participantes, agradecimentos e acordos para um próximo encontro. 
  10. Para que uma feira de troca efetivamente aumente os recursos dos participantes, é importante que as pessoas criem, produzam, transformem, agreguem valor. Um grupo no qual predominem bens usados tem muito menos vitalidade e tende a se desgastar. Como a feira dura várias horas, os participantes acabam sentindo fome e sede. Em geral há grande procura por alimentos e bebidas principalmente para consumo imediato, mas também para levar. No convite, incentive a todos a criarem, produzirem e a levarem, também, algo de alimentos para trocar com os demais.  


Fazer uma feira é muito bom, mas o mais legal é fazer uma série. Nas primeiras as pessoas estão aprendendo as novidades, com o tempo as feiras vão ficando cada vez melhores.


Alguns cuidados
A ideia é aumentar o bem estar ampliando o aprendizado, a vitalidade comunitária e as possibilidades de oferecer e obter bens e serviços. Por isso, vale as pessoas estarem atentas para que as feiras de trocas não se convertam em um espaço de competição e a acumulação. Este é um dos motivos para usar uma moeda sem validade fora da feira, mesmo que o grupo se torne um “clube de trocas” com feiras periódicas.

Quanto mais o grupo se empenhar em satisfazer as necessidades dos demais, produzindo e oferecendo o que os outros precisam, mais forte se torna o grupo e maior será o aumento de bem-estar. Lembrando que economia – no sentido saudável da palavra – é servir o outro. Você fazer sua barba não é uma atividade econômica, quando alguém faz isto com maestria para outra pessoa, é um barbeiro, e a atividade tem um valor econômico, cria riqueza (em dinheiro para uma pessoa e em bem estar para a outra).

Portanto: o mais importante é estimular a criatividade! ajude os participantes a descobrirem o que os demais querem e as centenas de coisas que cada um pode oferecer em serviços e saberes. Para aguçar a imaginação, aqui vai uma pequena lista de possibilidades de serviços que os participantes podem oferecer: Contar histórias para crianças; Organizar festas de rua, gincanas para jovens ou torneios para aposentados; Efetuar um mutirão para alavancar uma construção iniciada, para instalar um reservatório para captação de água de chuva, ou um aquecedor solar de baixo custo; Organizar oficinas para ensinar técnicas de consertos elementares (torneiras, chuveiros, cabos de eletrodomésticos, etc); Preparar produtos de limpeza caseiros com receitas ecológicas; Embalar alimentícios comprados no atacado; Aulas de culinária sem proteína animal (mais saúde, custos menores); Oficinas sobre hortas caseiras, sobre temperos, sobre preparados tradicionais com ervas medicinais; Cursos usando tutoriais on-line realizados em telecentros, etc etc etc.


Todo mundo tem mais para oferecer, do que imagina.
E pode precisar de algo que alguém bem perto pode suprir. Em geral as pessoas possuem talentos e bens e nem se dão conta de que eles podem ser muito apreciados, por exemplo, saber andar de skate, pode se converter em uma aula para principiantes; ser paciente e metódico pode se converter em um serviço de montar um pequeno filme no moviemaker, colocar um acervo de livros em ordem alfabética, etc. Quais são os seus talentos? Quais são os seus sonhos? Em que você brilha??

Boa Feira!!

Adaptado de texto de Felipe Bannitz, coordenador da ITCP-GV
(Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Fundação Getúlio Vargas)