PAI e FILHO - Piada.
CONVERSA ENTRE PAI E FILHO, ANTES DO ADORMECER, NUMA CIDADE NORTE-AMERICANA
Por Desconhecido 09/02/2004 às 02:14
> F: Mas como é que nós sabíamos que Deus queria que atacássemos o Iraque?
> P: Bem, estás a ver, Deus fala pessoalmente com George W. Bush e
> diz-lhe o que deve fazer.
> Filho: Paizinho, porque é que tivemos que atacar o Iraque?
> Pai: Porque eles tinham armas de destruição em massa, filho.
> F: Mas os inspectores não encontraram nenhumas armas de destruição em
> massa.
> P: Isso é porque os iraquianos as esconderam.
> F: E porque é que nós invadimos o Iraque?
> P: Bom, as invasões funcionam sempre melhor que as inspecções.
> F: Mas depois de os termos invadido, AINDA não encontrámos nenhumas
> armas, pois não?
> P: Isso é porque as armas estão muito bem escondidas. Mas deixa lá,
> haveremos de encontrar alguma coisa, provavelmente antes mesmo das
> próximas eleições.
> F: Para que é que o Iraque queria todas aquelas armas de destruição em
> massa?
> P: Para as usar numa guerra, claro.
> F: Estou confuso. Se eles tinham todas aquelas armas e planeavam
> usá-las numa guerra, então porque é que não usaram nenhuma quando os
> atacámos?
> P: Bem, obviamente não queriam que ninguém soubesse que eles tinham
> aquelas armas, por isso eles escolheram morrer aos milhares em vez de se
> defenderem.
> F: Isso não faz sentido, paizinho. Porque é que eles haveriam de
> escolher morrer se tinham todas aquelas armas poderosas para lutar contra
> nós?
> P: É uma cultura diferente. Não é suposto fazer sentido.
> F: Não sei o que é que tu achas, paizinho, mas não me parece que eles
> tivessem quaisquer daquelas armas que o nosso governo dizia que eles
> tinham.
> P: Bom, sabes, não interessa se eles tinham ou não aquelas armas. De
> qualquer modo nós tínhamos outra boa razão para os invadir.
> F: E qual era?
> P: Mesmo que o Iraque não tivesse armas de destruição em massa,
> Saddam Hussein era um cruel ditador, o que é outra boa razão para
> invadir outro país.
> F: Porquê? O que é que um ditador cruel faz para que seja correcto
> invadir o seu país?
> P: Bom, pelo menos uma coisa, ele torturava o seu próprio povo.
> F: Assim como fazem na China?
> P: Não compares a China com o Iraque. A China é um bom parceiro
> económico, onde milhões de pessoas trabalham por salários de miséria, em
> condições
> miseráveis, para tornar as empresas norte-americanas mais ricas.
> F: Então, se um país deixa que o seu povo seja explorado para o lucro
> das empresas americanas, é um bom país, mesmo se esse país tortura o
povo?
>
> P: Certo.
> F: Porque é que o povo no Iraque era torturado?
> P: Por crimes políticos, principalmente, tais como criticar o
> governo. As pessoas que criticavam o governo no Iraque eram presas e
> torturadas.
> F: Não é isso exactamente o que acontece na China?
> P: Já te disse, a China é diferente.
> P: Qual é a diferença entre a China e o Iraque?
> P: Bom, pelo menos uma coisa, o Iraque era governado pelo partido
> Baas enquanto que a China é comunista.
> F: Não me tinhas dito uma vez que os comunistas eram maus?
> P: Não; só os comunistas cubanos são maus.
> F:Porque é que os comunistas cubanos são maus?
> P: Bom, pelo menos uma coisa, as pessoas que criticam o governo em
> Cuba são presas e torturadas.
> F: Como no Iraque?
> P: Exactamente.
> F: E como na China, também?
> P: Já te disse, a China é um bom parceiro económico. Cuba, por outro
> lado, não é.
> F: Porque é que Cuba não é um bom parceiro económico?
> P: Bem, é assim, no princípio dos anos 60, o nosso governo fez umas
> leis que tornaram ilegal que os norte-americanos
> tivessem trocas comerciais ou outros negócios com Cuba, até que eles
> deixassem de ser comunistas e começassem a
> ser capitalistas como nós.
> F: Mas se nós acabássemos com essas leis, abríssemos o comércio com
> Cuba, e começássemos a fazer negócios com
> eles, isso não ajudaria os cubanos a tornarem-se capitalistas?
> P: Não te armes em chico-esperto.
> F: Eu acho que não sou.
> P: Bom, de qualquer modo, também não há liberdade de religião em Cuba.
> F:Assim como na China, com o movimento Falun Gong?
> P: Já te disse, deixa-te de dizer mal da China. De qualquer maneira,
> Saddam Hussein chegou ao poder através de um golpe militar, por isso
> ele não era realmente um líder legítimo.
> F: O que é um golpe militar, paizinho?
> P: É quando um general toma conta do governo de um país pela força,
> em vez de eleições livres como nós temos nos Estados Unidos.
> F: O líder do Paquistão não chegou ao poder através de um golpe militar?
> P: Referes-te ao General Pervez Musharraf? Uhm, ah, sim, foi; mas o
> Paquistão é nosso amigo.
> F: Como é que o Paquistão é nosso amigo se o seu líder é ilegítimo?
> P: Eu nunca disse que Pervez Musharraf era ilegítimo.
> F: Não acabaste de dizer que um general que chega ao poder pela
> força, derrubando o governo legítimo de uma nação, é um líder ilegítimo?
> P: Só Saddam Hussein. Pervez Musharraf é nosso amigo, porque ele nos
> ajudou a invadir o Afeganistão.
> F: Porque é que nós invadimos o Afeganistão?
> P: Por causa do que eles nos fizeram no 11 de Setembro.
> F: O que é que o Afeganistão nos fez no 11 de Setembro?
> F: Bem, em 11 de Setembro de 2001, dezanove homens, quinze dos quais
> da Arábia Saudita, desviaram quatro aviões e lançaram três contra
> edifícios, matando mais de 3000 norte-americanos.
> F: Então, onde é que o Afeganistão entra nisso tudo?
> P: O Afeganistão foi onde esses homens maus foram treinados, sob o
> regime opressivo dos Taliban.
> F: Os Taliban não são aqueles maus radicais islâmicos que cortam as
> cabeças e as mãos das pessoas?
> P: Sim, são esses exactamente. Não só cortavam as cabeças e as mãos
> das pessoas, como também oprimiam as mulheres.
> F: Mas o governo de Bush não deu aos Taliban 43 milhões de dólares em
> Maio de 2001?
> P: Sim, mas esse dinheiro foi uma recompensa porque eles fizeram um
> bom trabalho na luta contra as drogas.
> F: Na luta contra as drogas?
> P: Sim, os Taliban ajudaram muito, para obrigar as pessoas a deixarem
> de cultivar papoilas de ópio.
> F: Como é que eles fizeram tão bom trabalho?
> P: É simples. Se as pessoas fossem apanhadas a cultivar papoilas de
> Ópio, os Taliban cortavam-lhes as mãos e as cabeças.
> F: Então, quando os Taliban cortavam as cabeças e as mãos das pessoas
> que cultivavam flores, isso estava certo, mas não se
> eles cortavam as cabeças e as mãos por outras razões?
> P: Sim. Nós achamos bem se os radicais fundamentalistas islâmicos
> cortam as mãos das pessoas por cultivarem flores, mas
> achamos cruel que eles cortem as mãos das pessoas por roubar pão.
> F: Mas na Arábia Saudita eles não cortam também as mãos e as cabeças das
> pessoas?
> P: Isso é diferente. O Afeganistão era governado por um patriarcado
> tirânico que oprimia as mulheres e as obrigava a usar burqas sempre
> que elas estivessem em público, e as que não cumprissem eram
> condenadas à morte por apedrejamento.
> F: Mas as mulheres na Arábia Saudita não têm também que usar burqas em
> público?
> P: Não, as mulheres sauditas simplesmente usam uma vestimenta
> islâmica tradicional.
> F: Qual é a diferença?
> P: A vestimenta islâmica tradicional usada pelas mulheres sauditas é
> uma roupa modesta mas em moda que cobre todo o corpo
> da mulher excepto os olhos e os dedos. A burqa das afegãs, por outro
> lado, é um instrumento maligno da opressão patriarcal que
> cobre todo o corpo da mulher excepto os olhos e os dedos.
> F: Parece-me a mesma coisa com um nome diferente.
> P: Bom, não vais agora comparar o Afeganistão com a Arábia Saudita.
> Os sauditas são nossos amigos.
> F: Mas parece-me que disseste que 15 dos 19 piratas do ar do 11 de
> Setembro eram da Arábia Saudita.
> P: Sim, mas foram treinados no Afeganistão.
> F: Quem é que os treinou?
> P: Um homem muito mau, chamado Osama bin Laden.
> F: Ele era do Afeganistão?
> P: Aahh, não, ele era também da Arábia Saudita. Mas era um homem mau,
> um homem muito mau.
> F: Se bem me lembro, ele já tinha sido nosso amigo.
> P: Só quando nós o ajudámos e aos mujahadin a repelir a invasão
> soviética do Afeganistão nos anos 80.
> F: Quem são os soviéticos? Não era o Império do Mal, comunista, que o
> Ronald Reagan falava?
> P: Já não há soviéticos. A União Soviética acabou em 1990, ou mais ou
> menos, e agora eles têm eleições e capitalismo como nós. Agora
> chamamo-lhes russos.
> F: Então os soviéticos, quero dizer, os russos, agora são nossos amigos?
> P: Bem, não efectivamente. Sabes, eles foram nossos amigos durante
> uns anos quando deixaram de ser soviéticos, mas depois decidiram não
> nos apoiar na invasão do Iraque, por isso agora estamos aborrecidos
> com eles. Também estamos aborrecidos com os franceses e os alemães
> porque eles também não nos ajudaram a invadir o Iraque.
> F: Então os franceses e os alemães também são maus?
> P: Não completamente, mas suficientemente maus para termos mudado o
> nome das French Fries (batatas fritas) e das French
> Toasts para Freedom Fries (batatas da liberdade) e Freedom Toasts.
> F: Nós mudamos sempre os nomes à comida quando outro país não faz o
> que nós queremos?
> P: Não, isso é só com os nossos amigos. Os inimigos, invadimo-los.
> F: Mas o Iraque não foi um dos nossos amigos nos anos 80?
> P: Bem, sim. Durante algum tempo.
> F: Saddam Hussein não era então o líder do Iraque?
> P: Sim, mas nessa altura ele estava em guerra contra o Irão, o que
> fez dele nosso amigo, temporariamente.
> F: Porque é que isso fez dele nosso amigo?
> P: Porque nessa altura o Irão era nosso inimigo.
> F: Isso não foi quando ele lançou gás contra os curdos?
> P: Sim, mas como ele estava em guerra contra o Irão, nós olhámos para
> o lado, para lhe mostrar que éramos seus amigos.
> F: Então, quem lutar contra um dos nossos inimigos torna-se
> automaticamente nosso amigo?
> P: A maior parte das vezes sim.
> F: E quando alguém luta contra um dos nossos amigos torna-se
> automaticamente nosso inimigo?
> P: Às vezes isso é verdade, também. Porém, se as empresas americanas
> poderem lucrar vendendo armas a ambos os lados ao mesmo tempo, tanto
> melhor.
> F: Porquê?
> P: Porque a guerra é boa para a economia, o que significa que a
> guerra é boa para a América. Além disso, visto que Deus está
> do lado da América, quem se opõe à guerra é um ateu, anti-americano,
> comunista. Percebes agora porque é que atacámos o Iraque?
> F: Acho que sim. Nós atacámos porque era a vontade de Deus, certo?
> P: Sim.
> F: Mas como é que nós sabíamos que Deus queria que atacássemos o Iraque?
> P: Bem, estás a ver, Deus fala pessoalmente com George W. Bush e
> diz-lhe o que deve fazer.
> F: Então, basicamente, estás a dizer que atacámos o Iraque porque
> George W. Bush ouve vozes na cabeça?
> P: Sim! Finalmente percebes como o mundo funciona. Agora fecha os
> olhos, aconchega-te e dorme. Boa noite.
> F: Boa noite, paizinho. http://brasil.indymedia.org/pt/blue/2004/02/274010.shtml
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